Compartilhe

RICARDO II, ATO II, CENA IV

Um campo no País de Gales. Entram Salisbury e um capitão.

CAPITÃO ­ Milorde Salisbury, já esperamos dez dias. Tenho feito muito esforço para conter os
nossos conterrâneos. Estamos sem notícias do monarca; por isso vamos dispersar; adeus.
SALISBURY ­ Espera mais um dia, fiel galense; a confiança do rei em ti repousa.
CAPITÃO ­ Dizem que ele morreu; não ficaremos. Mirrados estão todos os loureiros de nossa terra;
meteoros causam medo às estrelas fixas; sobre os campos projeta luz sangüínea a lua pálida; profetas
magros falam em segredo de mudanças terríveis; as pessoas ricas se mostram tristes, os mendigos dão
saltos de alegria; um, porque teme perder quanto ora goza, outro, esperando vir a gozar pelo furor da
guerra. Sem erro, esses sinais nos pressagiam morte ou queda de rei. Adeus; os nossos compatriotas se
vão, eu inclusive, certos de que Ricardo já não vive.
(Sai.)
SALISBURY ­ Ah, Ricardo! Com os olhos da tristeza vejo tua glória que, como uma bólide, se
precipita sobre a terra baixa. Teu sol, chorando, já procura o ocaso, conseqüência fatal do teu descaso.
Reforçam teus amigos o inimigo; transmuda-se o teu bem, todo, em perigo.
(Sai)