Windsor. Um quarto no castelo. Toque de clarins. Entram Bolingbroke e York, com nobres e séquitos.
BOLINGBROKE Bondoso tio, as últimas notícias recebidas nos dizem que os rebeldes puseram
fogo em Cicester, cidade de Gloucestershire. Contudo ignoro se conseguiram escapar ou não.
(Entra Northumberland.)
Sede bem-vindo. Que noticias há?
NORTHUMBERLAND Primeiro, votos de felicidade ao teu sagrado Estado. A outra notícia é a
seguinte: mandei já para Londres as cabeças de Spencer, Salisbury, Blunt e Kent. A maneira por que
foram todos eles vencidos, neste maço de papéis podeis vê-la mais de espaço.
BOLINGBROKE Gentil Percy, obrigado; a recompensa do teu trabalho não terá detença.
(Entra Fitzwater.)
FITZWATER Mandei, milorde, de Oxford para Londres as cabeças de Brocas e sir Bennett Seely,
dois dos traidores conjurados que em Oxford intentaram derrubar-te.
BOLINGBROKE Não ficará teu mérito esquecido, que eu bem sei quão fiel tu me tens sido.
(Entra Henrique Percy com o bispo de Carlisle.)
HENRIQUE PERCY O abade de Westminster, milorde, o grande conspirador, com o peso dos
remorsos e da melancolia acabrunhante cedeu o térreo corpo à sepultura. Mas Carlisle aqui está, porque a
sentença lhe comines de sua audácia imensa.
BOLINGBROKE Carlisle, vais ouvir o teu castigo: escolhe logo algum secreto abrigo, de fama
religiosa mais fervente do que foi sempre a tua, e aí, contente, passa teus dias. Nesse calmo asilo se bem
viveres, morrerás tranqüilo. Conquanto sempre fosses meu contrário, sei bem que não possuis peito
nefário.
(Entra Exton, com criados que trazem um ataúde.)
EXTON Grande rei, neste esquife eu te apresento teu medo sepultado. Sem perigo mais para ti, aí
jaz teu inimigo, Ricardo de Bordéus, por mim trazido.
BOLINGBROKE Exton, não te agradeço; o cometido feito de que te orgulhas me enxovalha,
cobrindo a nossa pátria de mortalha.
EXTON Tu mesmo, ó rei, me insinuaste o feito.
BOLINGBROKE Quem recorre ao veneno, só proveito dele entende tirar; ódio lhe vota. Não te
amo; muito embora eu a derrota de Ricardo almejasse, ora abomino, quanto lhe tenho amor, seu
assassino. Em tua própria consciência, que te esmaga, procura agora a merecida paga, não em palavras de
agradecimento, nem em favores reais e valimento. Como Caim, passa a vagar de noite, sem jamais
encontrares quem te acoite. Senhores, asseguro-vos que da alma confrangida fugiu-me toda a calma, por
ver que necessário se tornasse, para minha subida, este traspasse. Vinde chorar comigo o que eu lamento
e ponde luto desde este momento. À Terra Santa pretendo ir, contrito, para limpar-me deste atroz delito.
Solidários ficai na minha agrura, lastimando esta morte prematura.
(Saem.)