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CORIOLANO, ATO IV, Cena II

O mesmo. Uma rua perto da porta da cidade. Entram Sicínio, Bruto e um edil.

SICÍNIO - Mandai que se recolham; já partiu. Vamos parar aqui, que os nobres se acham irritados
conosco, pois bem vimos como todos ficaram de seu lado.

BRUTO - Tendo provado nossa força, vamos mostrar mais humildade após o feito do que durante a ação.

SICÍNIO - Mandai que todos vão para suas casas. O inimigo máximo, lhes direis, já foi embora, tendo
eles recobrado a força antiga.

BRUTO - Mandai que se recolham para casa.
(Sai o edil.)
(Entram Volúmnia, Vergília e Menênio.)
Aí vem a mãe dele.

SICÍNIO - Retiremo-nos.

BRUTO - Por que razão?

SICÍNIO - Dizem que ficou louca.

BRUTO - Já nos viu; continuemos o caminho.

VOLÚMNIA - Oh! chegais muito a tempo. Recompense-vos os deuses a afeição com seus flagelos
acumulados.

MENÊNIO - Paz! Falai mais baixo.

VOLÚMNIA - Não fossem minhas lágrimas, havíeis de ouvir-me... Não! Tereis de ouvir um pouco.
(A Bruto.)
Já quereis ir embora?

VERGÍLIA (A Sicínio) - É necessário que também vós fiqueis. Ah! se eu pudesse dizer a mesma coisa a
meu marido!

SICÍNIO - Sois ser humano, acaso?

VOLÚMNIA - Sim, idiota; será vergonha sê-lo? Que cretino! Não foi homem meu pai? E tu, que espécie
de raposa serás, para banires de Roma o herói que a seu favor mais golpes dera do que palavras já
disseste?

SICÍNIO - Oh céu bendito!

VOLÚMNIA - Mais gloriosos golpes pela causa de Roma do que em todas as sensatas palavras de tua
vida. Vou dizer-te... Não; vai... É bom que fiques. Quisera que meu filho se encontrasse na Arábia, e
diante dele tua tribo à distância de sua boa espada.

SICÍNIO - Bem; e depois?

VERGÍLIA - Depois? Extinguiria tua posteridade.

VOLÚMNIA - Sim, bastardos e tudo o mais. Quantas feridas ele recebeu pela pátria!

MENÊNIO - Vamos! Vamos!

SICÍNIO - Quisera que ele houvesse continuado como de início, sem soltar o laço glorioso que o prendia
à sua pátria.

BRUTO - Eu também.

VOLÚMNIA - Eu também? Gatos! Todos vós apreciar podeis seu grande mérito como eu penetrar posso
nos mistérios que o céu não quer que a terra a saber venha.

BRUTO - Partamos, por favor.

VOLÚMNIA - Sim, homens, ide! Realizastes um ato de bravura! Mas antes de vos irdes ouvi isto: Como
ultrapassa o Capitólio as casas mais humildes de Roma, assim, meu filho que foi por vós banido - o
esposo desta senhora que aqui vedes - vos excede. Sim, a vós todos.

BRUTO - Bem; vamos deixar-vos.

SICÍNIO - Por que ficarmos tanto tempo imóveis, servindo de alvo para as invectivas de uma pessoa que
perdeu o juízo?

VOLÚMNIA - Levai as minhas preces.
(Saem os tribunos.)
Desejara que nada mais para fazer tivessem os deuses a não ser dar cumprimento às minhas maldições.
Se os encontrasse uma vez, pelo menos, cada dia, aliviaria o coração do peso que tanto o oprime.

MENÊNIO - Destes-lhes de rijo. E com razão, por minha fé, vos digo. Vamos cear.

VOLÚMNIA - Meu alimento é a cólera; ceio a mim mesma; e, assim, morro de fome, de tanto me fartar.
Vamos embora. Parai com esses pios abafados e lamentai-vos tal como eu: colérica, como outra Juno!
Vamos! vamos! vamos!

MENÊNIO - Ora! ora!
(Saem.)