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ATO III, Cena V

MACBETH,William Shakespeare,ATO III, Cena V

A charneca;Trovão; Entram as três bruxas, que encontram Hécate.

PRIMEIRA BRUXA - Hécate, que houve? Pareceis zangada.

HÉCATE - Causa não tenho, feiticeiras? Qual a razão, bisbilhoteiras, de ser Macbeth neste negócio de morte e enigmas vosso sócio, enquanto eu, dona de vós todas, que apresto sempre as negras bodas, não fui chamada a tomar parte no brilho e glória de nossa arte? E o que é pior: quanto fizestes a tudo vos mostrando prestes, foi para um tipo truculento de mui grosseiro acabamento que não vos tem nenhuma estima e só de egoísmo em tudo prima; Mas emendai-vos; e defronte do fundo charco do Aqueronte amanhã cedo ide encontrar-me, que ele em estado está de alarme, e para lá, quase sem tino, irá saber de seu destino; Vasos e encantos tende à mão; de tudo basta provisão; Para o ar me vou; na noite escura
farei bem cedo uma ação dura; De uma grande obra a fantasia será completa enquanto é dia; Ora uma gota espessa e crua dos cornos pende ali da lua; Vou apanhá-la antes que caia, pois, destilada, de atalaia gênios porá de tanto alcance que, por sua força, ele se lance na destruição, à morte e ao fado a resistir qual renegado, pondo a esperança acima em tudo da própria graça e o medo agudoPara os mortais a segurança é o imigo mor, que jamais cansa.
(Canção dentro: "Vinde, vinde," etc.)
Chamam-me; é meu espírito travesso que me aguarda das nuvens num cabeço.
(Sai.)

PRIMEIRA BRUXA - Apressemo-nos; ela volta logo.
(Saem.)

Cena VI

Forres;Um quarto no palácio;Entram Lennox e outro nobre.

LENNOX - Meu discurso anterior só mui de leve tocou em vossos pensamentos, sendo-vos agora facultado interpretá-lo como vos aprouver; Direi somente que tudo se passou por modo estranho; Por Macbeth foi chorado o meigo Duncan; Que pena! Estava morto; Muito tarde saiu de casa o nosso bravo; Banquo, que, podereis dizer, se assim quiserdes, Fleance matou, pois Fleance fugiu logo; É perigoso passear de noite; A quem não ocorreu o pensamento de quão monstruoso foi haver Malcolm e Donalbain o pai assassinado? Que ação maldita! E como entristecido deixou Macbeth! Pois ele, na mesma hora, arrebatado de um furor piedoso, em pedaços não fez os dois facínoras, servos do sono e escravos da bebida? Não foi nobre tudo isso? E foi prudente; Pais qualquer coração se tornaria por demais irritado, quando os homens negar ouvisse o fato; Assim, vos digo, soube fazer a coisa, como penso que se ele vier a ter sob chave os filhos de Duncan - o que nunca, Deus louvado, chegará a conseguir - hão de ver ambos o que é matar o pai e o mesmo, Fleance; Mas, silêncio! Por causa de palavras um tanto livres e por ter faltado à festa do tirano, soube há pouco que em desgraça Macduff agora vive; Caro senhor, dizer-me
poderíeis em que lugar ele encontrou abrigo?

NOBRE - Na corte da Inglaterra vive o filho de Duncan, cuja herança verdadeira o tirano retém, e é recebido pelo piedoso Eduardo com tal graça que a má vontade da fortuna em nada do alto respeito
merecido o priva; Para lá foi Macduff, a fim de ao santo rei suplicar auxílio, no sentido de estimular Northumberland e o bravo Siward, e assim, com a ajuda desses nobres - confirmando lá do alto Deus tudo isso - possamos restituir a nossas mesas os alimentos, sono a nossas noites, livrar nossos festejos e
banquetes das facas sanguinárias, homenagens da lei prestar e receber as honras a que temos direito, coisas essas que nos faltam de todo essa notícia exasperou o rei de tal maneira que aprontando se está para uma guerra.

LENNOX - Mandou ele a Macduff algum recado?

NOBRE - Mandou; porém o mensageiro turvo com um resoluto "Eu não, senhor!" as costas voltou-me decidido, resmungando, como quem diz: "Haveis de arrepender-vos do tempo que me impõe essa resposta".

LENNOX - Que isso o ensine a ser cauto, conservando-se a distância que possa aconselhá-lo sua sabedoria; Se um santo anjo fosse à Inglaterra e desse o seu recado antes de ele chegar, para que pronta bênção se espalhe logo em nossa pátria que geme ao peso dessa mão maldita!

NOBRE - Mandaria com ele minhas preces.
(Saem.)