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ATO V, Cena III

MACBETH,William Shakespeare, ATO V, Cena III

Dunsinane; Um quarto no castelo; Entram Macbeth, o médico e pessoas do séqüito

MACBETH - Deixai de me trazer essas notícias; Que fujam todos, pois enquanto a mata de Birnam não chegar a Dunsinane, não poderá manchar-me o frio medo; Que é o pequeno Malcolm? Porventura não
nasceu de mulher? Ora, os espíritos que os processos mortais mui bem conhecem, a meu respeito assim se pronunciaram: "Nada temas, Macbeth, pois nenhum homem nascido de mulher pode vencer-te"Fugi,
portanto, miseráveis thanes, e ide associar-vos aos ingleses lúbricos; Jamais se dobrará meu forte espírito sob o peso da dúvida, nem há de mostrar meu coração menor vontade.
(Entra um criado.)
Que o diabo te condene em negro, biltre de cara de coalhada; Onde encontraste essas feições de ganso?

CRIADO - É que há dez mil..

MACBETH - Gansos, vilão?

CRIADO - Soldados, meu senhor.

MACBETH - Vai esfregar o rosto e de vermelho pintar o medo, fígado de lírio! Que soldados, poltrão? Morte de tua alma! Essas bochechas brancas como linho são ministro do medo; Que soldados, cara de leite?

CRIADO - Não vos desagrade, os soldados ingleses.

MACBETH -Tira a tua cara daqui; Depressa!
(Sai o criado.)
Seyton! Dói-me demais o coração, quando contemplo..Seyton! torno a chamar..Essa batalha vai-me dar alegria para sempre ou tirar-me do trono neste instante; Já vivi muito; minha vida inclina-se para o Outono de folhas amarelas, e a nada do que deve vir no rasto da velhice: amor, honras, obediência, amigos, poderei eu aspirar em lugar disso, maldições, não ditas em voz alta, mas fundas; homenagens à flor da boca apenas, que, de grado o pobre coração contestaria, conquanto não se atreva.Seyton! digo.

SEYTON - Que é o vosso prazer gracioso agora?

MACBETH - Quais são as outras novidades?

SEYTON - Quanto vos disseram, senhor, foi confirmado.

MACBETH - Hei de lutar até que me retalhem toda a carne dos ossos; Dai-me logo minha armadura. Vamos!

SEYTON - Ainda é cedo.

MACBETH - Quero vesti-la já; Mais cavaleiros mandai já limpar a redondeza; Dai-me a armadura. Como vai passando vossa doente, doutor?

O MÉDICO - Não se acha doente, propriamente, senhor, mas perseguida por freqüentes visões que do
repouso de todo a têm privado.

MACBETH - Cura-a disso; Não podes encontrar nenhum remédio para um cérebro doente, da memória tirar uma tristeza enraizada, delir da mente as dores aí escritas e com algum antídoto de oblívio doce e
agradável aliviar o peito que opresso geme ao peso da matéria maldosa que comprime o coração?

O MÉDICO - Para isso deve o doente achar os meios.

MACBETH - Então atira aos cães a medicina; Não quero saber dela; Vamos logo! Minha armadura!
Dai-me o meu bastão; Seyton, manda sair..Doutor, os thanes fogem de mim- Vamos! Mais pressa nisso! - Se examinar, doutor, pudesses a água do meu reino, encontrar a doença dele, restituir-lhe por
meio de uma purga a saúde primeira, tão notória, aplaudir-te-ia que os próprios ecos aplaudissem de novo- Fora! digo - Que ruibarbo, que sene ou droga drástica nos limpará desses ingleses todos? Já ouviste falar deles?

O MÉDICO - Sim, bondoso senhor; vossos reais preparativos nos forçam a ouvir
algo.

MACBETH - Não hei de ter da morte medo inane, se Birnam não vier a Dunsinane.

O MÉDICO (à parte) - E eu se longe estivesse neste dia, nenhum lucro a voltar me obrigaria.
(Saem.)