Compartilhe

ATO V,Cena II

William Shakespeare, Sonho de uma noite de verão,ATO V,Cena II

Entra Puck.

PUCK - Ruge o leão a cada passo, uiva o lobo para a lua, ressona o campônio lasso, deslembrado da
charrua. Consomem-se na lareira as últimas acendalhas; o pio da ave agoureira fala ao doente em
mortalhas. Nesta hora da noite escura as pobres almas andejas se esgueiram da sepultura rumando para as
igrejas. Nós, os elfos, que a parelha de Hécate sempre seguimos, e da luz do sol, vermelha, como num
sonho, fugimos, de guarda estamos agora. Nenhum rato, em qualquer hora, a paz deixe perturbada desta
casa abençoada. Com vassoura eu vim na frente para limpar o batente e jogar nesta hora morta todo o pó
atrás da porta.
(Entram Oberon, Titânia e séqüito.)

OBERON - Por tudo a luz espalhai do quase extinto carvão. Elfos e fadas, dançai, aproveitando o clarão,
e, seguindo o meu caminho, cantai comigo baixinho.

TITÂNIA - Aprendei, primeiro, a toada com letra bem cadenciada; depois, com graça, dancemos e esta
casa abençoemos.
(Cantam e dançam.)

OBERON - Enquanto a aurora se atrasa, rondai todos esta casa, que ao tálamo principal vou lançar a
bênção real. Sua prole numerosa será sempre venturosa. Os três casais que aqui estão em concórdia
viverão; seus filhos não serão presa das manchas da Natureza. Beiço de lebre, sinais e outros defeitos que
tais, que deixam triste o aleijão, seus filhos nunca terão. Com orvalho consagrado cada elfo cumpra o
recado, este palácio abençoando e paz por tudo espalhando. Jamais caia em abandono, feliz seja sempre o
dono. Mãos à obra, agora, sem mais demora! Ide ver-me antes da aurora.
(Saem Oberon, Titânia e séqüito.)

PUCK - Se vos causamos enfado por sermos sombras, azado plano sugiro: é pensar que estivestes a
sonhar; foi tudo mera visão no correr desta sessão. Senhoras e cavalheiros, não vos mostreis zombeteiros;
se me quiserdes perdoar, melhor coisa hei de vos dar. Puck eu sou, honesto e bravo; se eu puder fugir do
agravo da língua má da serpente, vereis que Puck não mente. Liberto, assim, dos apodos, eu digo
boa-noite a todos. Se a mão me derdes, agora, vai Robim, alegre, embora.

(Sai.)