Ântio. Defronte da casa de Aufídio. Entra Coriolano, disfarçado, com vestes humildes e a cabeça
encoberta.
CORIOLANO - Bela cidade, esta Ântio. Tuas viúvas, ó cidade! fui eu que fiz. Inúmeros herdeiros destes
belos edifícios em minhas guerras vi precipitarem-se com estertores. Não me reconheças agora, para que,
de espeto armadas tuas mulheres, e de pedra os filhos, não me venham matar numa batalha que pareça de
anões.
(Entra um cidadão.)
O céu vos guarde, meu senhor.
CIDADÃO - Como a vós.
CORIOLANO - Se vos agrada, mostrai-me onde reside o grande Aufídio. Está em Ântio?
CIDADÃO - Está, e nesta noite dá para os nobres da cidade, em sua própria casa, uma festa.
CORIOLANO - Por obséquio, onde fica essa casa?
CIDADÃO - É essa que vedes em vossa frente.
CORIOLANO - Muito agradecido, meu senhor; passai bem.
(Sai o cidadão.)
Ó mundo, mundo, de voltas inconstantes! Dois amigos jurados, que nesta hora pareciam ter um só
coração no duplo peito; cujos leitos, lazeres, exercícios e refeições de acordo sempre andavam, gêmeos
ao parecer, inseparáveis pela força do amor: dentro de uma hora, por uma divergência de coisinha, na
mais amarga divergência explodem. Assim também ferrenhos inimigos, cujas paixões e planos
destrutivos impediam de ao sono se entregarem, por um simples acaso, algum pretexto que não vale um
centil, tornam-se amigos do peito e dão-se em casamento os filhos. Assim se dá comigo: odeio a pátria;
amo agora a cidade do inimigo. Vou entrar. Caso a vida ele me tire, fará, tão-só, justiça; em me
acolhendo, à pátria dele prestarei serviço.
(Sai.)