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ATO III, Cena II

MACBETH,William Shakespeare, ATO III, Cena II

O mesmo
Outro quarto no palácio
Entram Lady Macbeth e um criado

LADY MACBETH - Banquo deixou o pátio?

CRIADO - Deixou, senhora; mas retorna à noite.

LADY MACBETH - Vai, dize ao rei que eu quero ter com ele uma conversa rápida.

CRIADO - Isso mesmo, senhora, lhe direi.
(Sai.)
LADY MACBETH - Tudo é perdido, quando o desejo fica repartido toca ao morto decerto melhor sorte que a de alegrar-se assim quem lhe deu morte(Entra Macbeth.) Então, marido, por que só ficardes,
tendo por companhia as fantasias mais desconsoladoras e ocupando-vos com pensamentos que já deveriam ter morrido com quem se relacionam? O que não tem remédio, não devera ser pensado sequer.
O que está feito, não está por fazer.

MACBETH - Nós só talhamos a serpe, sem matá-la; Em pouco tempo se refará e volta a ser o que era,ficando o nosso miserável ódio de novo exposto ao seu antigo dente; Que a estalar venham todas as
junturas das coisas e a gemer ambos os mundos, antes de termos de tomar os nossos alimentos com medo e de dormirmos na aflição desses sonhos pavorosos que nos têm abalado as noites todas; Muito melhor nos fora estar com o morto que, para nossa própria paz, mandamos para o seio da paz, do que vivermos no banco de tormento de nossa alma, numa angústia sem fim; Duncan descansa no sepulcro; tranqüilo dorme, agora, depois das convulsões febris da vida; A traição lhe fez tudo o que podia; a perfídia
doméstica, o veneno, o aço, a invasão de fora, nada pode, doravante, atingi-lo.

LADY MACBETH - Caro esposo, saiamos; Alisai esse olhar crespo; sede claro e jovial com todos hoje.

MACBETH - Sê-lo-ei, amor; o mesmo vos desejo; A Banquo dedicai todas as vossas atenções,
distinguindo-o dentre todos com palavras e olhares; Pouco firme é nossa situação, enquanto for preciso lavar nossas honras nessa corrente aduladora e as feições empregarmos como máscara do coração, que os traços lhe disfarce.

LADY MACBETH - Precisais deixar isso.

MACBETH - Oh! tenho o espírito cheio de escorpiões, querida esposa! Sabeis que vivem Banquo e seu
Fleance.

LADY MACBETH - Mas eterna não é neles a cópia da natureza.

MACBETH - É o que consola a gente; são vulneráveis; Fica, pois, alegre antes de completar o vôo em torno do convento o morcego e Hécate negra ter ordenado que o besouro córneo com seu zumbido surdo dê o toque sonolento da noite, será feito algo aqui de memória pavorosa.

LADY MACBETH - O que é que vai ser feito?

MACBETH - Não macules tua inocência com saberes isso, minha pombinha, até saudares o ato; Vem, noite cega, tapa os olhos ternos do dia compassivo, e com sangrentas mãos e invisíveis rasga o grande pacto que me deixa tão pálido! Escurece; para a mata sombria voa a gralha; Vacila o claro agente, de fraqueza; mas a noite se atira para a presa; Admiras-te; mas fica sossegada, que o mal reforça a ação mal começada. Por favor, acompanha-me.
(Saem.)