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ANTONIO E CLEOPATRA, ATO IV, Cena VI

Diante de Alexandria. Acampamento de César. Fanfarra. Entra César com Agripa, Enobarbo e outros.

CÉSAR - Vai, Agripa; inicia logo a luta. Meu desejo é que Antônio seja feito prisioneiro; fazei sabê-lo a todos.

AGRIPA - Perfeitamente, César. (Sai.)

CÉSAR - Aproxima-se a paz universal. Se o dia de hoje for venturoso, o mundo de três cantos levará livre o ramo de oliveira. (Entra um mensageiro.)

MENSAGEIRO - Antônio está no campo de batalha.

CÉSAR - Então ordena a Agripa que coloque todos os desertores na vanguarda, para que, de algum modo, Antônio gaste contra si mesmo a fúria.

(Sai César com seu séqüito.)

ENOBARBO - Alexas desertou; indo à Judéia a negócios de Antônio, o grande Herode persuadiu a passar-se para César, abandonando seu senhor Antônio. Como prêmio, enforcá-lo mandou César. Canídio e os mais que a Antônio abandonaram, têm tratamento, mas não muito honroso. Procedi muito mal e disso mesmo de tal modo me acuso, que impossível me será readquirir minha alegria. (Entra um soldado de César.)

SOLDADO - Enobarbo, mandou-te, Antônio toda tua riqueza, com mais outras dádivas generosas. O portador achou-me no meu posto de guarda; neste instante em tua tenda descarrega as mulas.

ENOBARBO - Podes ficar com tudo.

SOLDADO - Estás pensando que é pilhéria, Enobarbo? Falo sério. Farias bem em escoltar teu hóspede até fora do campo, que eu preciso cuidar da obrigação. Se não fora isso, eu próprio o acompanhara. Continua sendo um Júpiter vosso imperador. (Sai.)

ENOBARBO - Sou o único vilão de toda a terra, e sinto-o fundamente. Ó Antônio! Antônio! tesouro inesgotável de favores! Como não pagarias meus serviços, se coroas com ouro a vilania? Partem-me o coração tantos abalos. Se o remorso veloz não o arrebenta. há de haver meio mais veloz do que ele. Mas é certeza: só o remorso basta. Eu, lutar contra ti? De forma alguma. Hei de achar uma fossa onde enterrar-me; a mais imunda é a que convém a última parte de minha vida. (Sai.)